quinta-feira, 19 de março de 2009

O fim da era de Thomas Edison


Substituídas pelas fluorescentes compactas e pelos LEDs, as lâmpadas incandescentes começam a sair de cena


No início deste ano, uma inusitada corrida às lojas aconteceu na Inglaterra. Mas a razão não era uma dessas liquidações que costumam ocorrer em janeiro.




As pessoas compraram dúzias de lâmpadas comuns de 100 watts. O motivo da corrida foi a adesão da Inglaterra a uma recomendação da União Européia, que pretende banir as lâmpadas de tungstênio do continente até 2012. Lâmpadas de 150 watts deixaram de ser vendidas nas principais lojas do Reino Unido já no ano passado. Agora, é a vez das unidades de 100 watts. As de 60 watts continuam no comércio até 2010.





A proposta é que sejam substituídas por LEDs e lâmpadas fluorescentes compactas, que consomem um quinto da energia gasta pelas tradicionais — apesar da desconfiança dos consumidores britânicos. Os europeus calculam que vão economizar 40 terawatts-hora de energia por ano com a troca. Isso corresponde a todo o consumo da Romênia, ou de 11 milhões de residências. Equivale a uma redução de 15 milhões de toneladas nas emissões de CO2. E a União Européia não está sozinha. É provável que, no mundo inteiro, daqui a cinco anos, o uso da lâmpada de tungstênio esteja restrito a algumas poucas aplicações especiais.



A BOA IDEIA

Patenteada por Thomas Edison 130 anos atrás, a lâmpada incandescente é uma invenção tão genial que virou sinônimo de boa ideia. Ela é mais barata que qualquer outro tipo de lâmpada, não exige nenhum circuito de controle além de um interruptor simples e não requer manutenção durante sua vida útil. Pode trabalhar com tensão elétrica contínua ou alternada, de 1,5 a 300 volts, dependendo do modelo. Está disponível numa enorme variedade de formatos, tamanhos e cores e ainda pode ter sua potência ajustada por meio de um dimmer. Nenhuma outra forma de iluminação tem tanta versatilidade. Assim, não é surpresa que tenha resistido tão bem à passagem do tempo. Mas a inspirada invenção de Edison tem um ponto negativo que vem se tornando cada vez mais inaceitável: ela é terrivelmente ineficiente. Só algo entre 5% e 10% da energia consumida é, de fato, convertida em luz. O resto é desperdiçado na formade calor.

Por causa disso, a incandescente já foi banida da iluminação pública e dos ambientes industriais, onde foi substituída pelas potentes unidades de vapor metálico e de sódio. Também já não é vista nos escritórios, que são território da fluorescente tubular. Mas a lâmpada de Edison resiste nas residências, nas vitrines de muitas lojas e nos faróis da maioria dos carros — em alguns casos, na sua variante halógena. Numa época em que o aquecimento global cobra seu preço e poupar energia é quase questão de sobrevivência da espécie humana, a voracidade energética da lâmpada incandescente é cada vez mais malvista.

A lista de candidatas a substituí-la é curta. Lâmpadas de sódio e vapor metálico, apesar de ser muito efi cientes, não se adaptam bem às aplicações de baixa potência. LEDs são eficazes e muito duráveis. Já estão presentes em lanternas e outros equipamentos alimentados por baterias e, no futuro, é provável que dominem também a iluminação doméstica. Mas, por enquanto, eles ainda têm limitações de potência, eficiência e preço, que impedem seu uso mais amplo. Assim, opção mais prática para substituir diretamente a lâmpada incandescente acaba sendo a fluorescente compacta.



A FLUORESCENTE ENCOLHEU

Inventada nos anos 70 por Ed Hammer, um engenheiro da General Electric americana, a lâmpada fluorescente compacta começou a ser vendida nos anos 80. No Brasil, tornou-se popular durante a crise do apagão, em 2001. Naquela época, consumidores obrigados a reduzir seu consumo de eletricidade aderiram em massa a esse tipo de iluminação. Lotes de baixa qualidade foram importados às pressas e deixaram muitos compradores frustrados. Essas lâmpadas demoravam para acender, duravam menosdo que os fabricantes prometiam e produziam uma luz azulada que era incômoda, e, em alguns casos, fraca demais para proporcionar claridade adequada. O desafio dos fabricantes, agora, é apagar a má impressão que ficou naquela época.

Ao que parece, estão conseguindo. A Philips, por exemplo, registra crescimento de 40% ao ano nas vendas de fluorescentes compactas no país, diz Yoon Young Kim, vice-presidente de Iluminação da empresa no Brasil. Um fator que contribui para esse crescimento é a própria evolução das lâmpadas, que melhoraram em vários aspectos, começando pelo formato. Muitos modelos do passado não cabiam nas luminárias convencionais, projetadas para uso com lâmpadas de tungstênio.

Mas tubos de vidro mais finos, de formato helicoidal, permitiram construir fluorescentes de tamanho similar ao das tradicionais. Enquanto isso, o desenvolvimento de novos tipos de revestimento para os tubos resultou em luz de cor mais natural, com várias opções de tonalidade. “No Nordeste, a lâmpada branca neutra é preferida. Traz sensação de frescor. Já em lugares mais frios, as pessoas tendem a achar a luz amarelada mais aconchegante”, diz Kim, da Philips. Se esse problema parece resolvido, a rapidez no acendimento ainda varia conforme o modelo.
O INFOLAB testou duas fluorescentes helicoidais, ambas da Osram, a maior fabricante de lâmpadas do mundo. Uma das unidades, de 19 watts, acendeu instantaneamente. Já a outra, de 6 watts, demorou quase um segundo para acender-se completamente.


Os grandes fabricantes costumam prometer vida útil de pelo menos 6 mil horas para suas fluorescentes compactas. É seis vezes a duração de uma incandescente típica, e o sufi ciente para mais de quatro anos de uso com a lâmpada acesa quatro horas por dia. Mas há, nas lojas, lâmpadas especificadas para 3 mil horas de uso, em geral de marcas menos prestigiadas. Outro problema relacionado à qualidade das fluorescentes é a perda de luminosidade com o uso.

Um teste feito anos atrás pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos mostrou que um quarto das lâmpadas desse tipo avaliadas não mais forneciam a intensidade prometida após 40% da vida útil. Essas lâmpadas também têm o inconveniente de emitir raios ultravioleta, que aceleram a degradação de polímeros e corantes. Não devem ser usadas num museu, por exemplo, sob pena de danifi car os quadros. Em situações assim, as opções são as lâmpadas halógenas e os LEDs.


O LED DURA MAIS

Atraentes por sua alta efi ciência energética, as fluorescentes compactas também causam um problema ambiental. Essas lâmpadas contêm pequena quantidade de mercúrio, metal altamente prejudicial à saúde humana. Deveriam receber tratamento especial quando descartadas, mas quase sempre vão parar no lixo comum. Essa é uma das razões para os fabricantes investirem, paralelamente, no desenvolvimento dos LEDs.

O LED não contém substâncias perigosas e ainda conta com vida útil estimada em 50 mil horas. Ao final desse período, esse dispositivo, que não se queima, perde 30% da luminosidade. “Na iluminação doméstica, o LED é praticamente vitalício. É provável que as pessoas nunca tenham de trocá-lo, como fazem com as lâmpadas comuns. Isso reduz a produção de lixo”, diz Vinicius Petrone, gerente de vendas da General Electric no Brasil.

A tecnologia do LED é quase centenária. A primeira versão que se conhece foi construída pelo cientista russo Oleg Losev, na década de 20. Ninguém encontrou utilidade prática para aquele primitivo diodo emissor de luz. Quem acabou ficando conhecido como pai do LED foi o americano Nick Holonyak Jr. Em 1962, trabalhando na General Electric, ele construiu o primeiro dispositivo apto a ser usado na prática e patenteou o invento.

Mais de 30 anos foram necessários para chegar a um LED de cor branca (no início, eram todos vermelhos) e com potência suficiente para uso em iluminação. Hoje, os LEDs estão presentes em semáforos, aplicação onde a confiabilidade e a vida longa são importantes. Também comparecem na iluminação de estacionamentos e embelezam monumentos como a ponte estaiada Octavio Frias de Oliveira, em São Paulo.



Fonte: Mauricio Grego Revista Info Exame – 03/2009

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