quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Amazonas-Manaus: o desafio dos resíduos - Sucena Shkrada

Há pelo o menos 10 anos, uma discussão que envolve o Distrito Industrial de Manaus é quanto à destinação dos resíduos. Isso implica o que fazer com os rejeitos industrial, urbano, hospitalar, do setor da construção e radiológico, em um parque com mais de 500 empresas - o maior na região norte do país. Esse cenário pode ser modificado com um projeto em discussão, desde o final do ano passado, que prevê até 2011, o início da implementação do Centro de Pólo de Tratamento de Resíduos.

A situação socioambiental da capital do Amazonas exige ações efetivas, visto que, a cidade apresenta outros problemas. Tem apenas a cobertura de esgoto em 11% de sua área urbana, o que propicia a geração de doenças, como destaca Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), Trata Brasil, que tem um trabalho específico voltado ao saneamento. Com a proliferação de vetores, há incidências de hepatites e malárias, entre outras.Para o tratamento de resíduos do pólo, foi firmado um acordo internacional de cooperação técnica entre a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), a Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) e a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA), em 2008. "Participamos do primeiro workshop, em setembro deste ano, para discutir o processo", explica Josué Campos, gerente de Gestão e Responsabilidade Social da Moto Honda, que integra a comissão, que discute o projeto.

A questão é urgente já que hoje somente 16 empresas - incluindo a Honda - realizam um trabalho sistematizado quanto ao ciclo dos resíduos e 80 são certificadas pela ISO 14001, de acordo com Campos. Do ponto de vista ambiental, exige um olhar sistêmico.

O levantamento realizado pela Jica aponta que o tratamento de grande parte dos resíduos gerados pelas indústrias locais, é realizado em Manaus, por meio da terceirização, pelas fábricas geradoras, dos serviços de coleta, transporte e a destinação final a empresas credenciadas pelos órgãos ambientais no Amazonas. Quando se trata de resíduos perigosos, o tratamento de parte deles é feito em outros Estados. Isso infere logística, poluição gerada pelo transporte etc. Mais detalhamentos podem ser consultados no link:

http://www.suframa.gov.br/download/publicacoes/jica/newsletter_nr003_pt.pdf.

O que chama atenção nessas apurações, por exemplo, é que o levantamento executado em um universo de 123 fábricas do distrito, referente ao período de junho de 2008 a maio deste ano, detectou que foram produzidos 36,97 ton/dia de resíduos da construção, sendo a maioria reutilizáveis. A maior parte desse total, entretanto, seguiu misturada a outros rejeitos, para o Aterro Municipal de Manaus.

Esses dados preliminares destacam a necessidade de reavaliação da gestão em todo o processo.O projeto prevê a criação de um Plano Diretor, com duração de cinco anos (2011-2015). Um estudo está sendo promovido pela Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), pelo Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), com a participação da Câmara de Comércio e Indústria Nipo-Brasileira do Amazonas. .

A Suframa, segundo o técnico, já cedeu um terreno para a construção do Centro do Pólo de Tratamento de Resíduos, no Distrito Industrial 2.A discussão envolve ainda um Subcomitê Técnico Consultivo, com a participação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas (Ipaam), as Secretarias Municipais de Limpeza Urbana e de Desenvolvimento e Meio Ambiente, além da Unidade de Gestão do Programa Igarapé (UGPI).De acordo com a representação da Jica, no Brasil, a instituição deve apoiar a iniciativa com um aporte de cerca de 2 milhões para a execução do projeto, extra a contrapartida brasileira.Soluções individuais

No caso da Moto Honda, o gerente de Gestão e Responsabilidade Social explica que são geradas mensalmente 1,8 mil t de resíduos, sendo 400 t perigosos, pela planta da empresa. "Cerca de 1,1 mil são aparas de aço da estamparia, que vendemos para a Gerdau. Isso resultou, de janeiro a setembro, em cerca de R$ 6 mi. O papel e papelão destinamos a outras empresas. O que arrecadamos com essa comercialização, utilizamos para ao cumprimento da destinação dos nossos resíduos perigosos", diz.

Outra política adotada pela empresa foi de fazer parcerias, que facilitaram a vinda de fornecedores para para o parque industrial. "A distância dos produtores de alumínio, por exemplo, era um problema complexo. Agora, já estão instalados no distrito. Com isso, reaproveitam parte de nossos rejeitos. O mesmo acontece com a areia de fundição e plástico.

Essas mudanças diminuiram o custo de fretes e impostos", afirma Josué Campos. A exposição do gerente demonstra que a gestão dos resíduos, dessa forma, pode se tornar rentável financeiramente e ambientalmente.

*Viajei para Manaus, representando o Blog Cidadãos do Mundo, entre 27 e 29 de outubro, integrando um fan tour jornalístico, a convite da Honda South América, em companhia de cerca de 20 colegas da área ambiental no Brasil.

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